Pistas práticas para cuidar da Terra (I)
Dois princípios são fundamentais na superação da atual crise pela qual passa o planeta Terra: a sustentabilidade e o cuidado.
A sustentabilidade,assentada na razão analítica, tem a ver com tudo o que é necessário para garantir a vida e sua reprodução para as atuais e as futuras gerações.
O cuidado, fundado na razão sensível e cordial refere-se aos comportamentos e às relações para com as pessoas e para com a natureza, marcadas pelo respeito à alteridade, pela amorosidade, pela cooperação, pela responsabilidade e pela renúncia a toda espécie de agressividade.
Articulando estes dois princípios poderemos devolver equiíbrio e vitalidade à Terra. Oferecemos algumas sugestões práticas no sentido de cada um fazer a sua revolução molecular (Guatarri): aquela que começa pela própria pessoa, base para a grande virada de todo o sistema. Eis algumas:
Alimente sempre a convicção e a esperança de que outra relação para com a Terra é possível, mais em harmonia com seus ciclos e respeitando os seus limites.
Acredite que a crise ecológica não precisa se transformar numa tragédia, mas numa oportunidade de mudança para um outro tipo de sociedade mais respeitadora e includente.
Dê centralidade ao coração, à sensibilidade, ao afeto, à compaixão e ao amor pois são estas dimensões que nos mobilizam para salvar a Mãe Terra e seus ecossistemas.
Reconheça que a Terra é viva mas finita, semelhante a uma nave espacial, com recursos escassos e limitados.
Resgate o princípio da re-ligação: todos os seres, especialmente, os vivos, são interdependentes, e por isso têm um destino comum. Devem conviver fraternalmente entre si.
Valorize a biodiversidade e cada ser vivo ou inerte, pois tem valor em si mesmo independentemente do uso humano.
Reconheça as virtualidades contidas no pequeno e no que vem de baixo, pois aí podem estar contidas soluções globais.
Quando não encontrar uma solução, confie na imaginação criativa, pois ela esconde em si respostas surpreendentes.
Tome a sério o fato de que para os problemas da Terra não há apenas uma solução, mas muitas que devem surgir do diálogo, das trocas e das complementariedades entre todos.
Exercite o pensamento lateral, quer dizer, coloque-se no lugar do outro e tente ver com os olhos dele. Assim verá dimensões diferentes e complementares da realidade.
Respeite as diferenças culturais (cultura camponesa, urbana, negra, indígena, masculina, feminina etc), pois todas elas mostram formas diversas de sermos humanos.
Supere o pensamento único do saber dominante e valorize os saberes cotidianos, do povo, dos indígenas e dos camponeses porque corroboram na busca de soluções globais.
Cobre que as práticas científicas sejam submetidas a critérios éticos a fim de que as conquistas beneficiam mais à vida e à humanidade que ao mercado e ao lucro.
Não deixe de valorizar a contribuição das mulheres porque são portadoras naturais da lógica do complexidade e são mais sensíveis a tudo o que tem a ver com a vida.
Faça um opção consciente por uma vida de simplicidade que se contrapõe ao consumismo. Pode-se viver melhor com menos, dando mais importância ao ser que ao ter e ao aparecer.
Cultive os valores intagíveis quer dizer, aqueles bens relacionados à espiritualidade, à gratuidade, à solidariedade, à cooperação e à beleza como os encontros pessoais, as trocas de experiências, o cultivo das artes especialmente da música.
Mais que parte do problema, considere-se parte de sua solução.
Leonardo Boff ingressou na Ordem dos Frades Menores, franciscanos, em 1959. Professor de Teologia e Espiritualidade em vários centros de estudo e universidades no Brasil e no exterior, além de professor-visitante nas universidades de Lisboa (Portugal), Salamanca (Espanha), Harvard (EUA), Basel (Suíça) e Heidelberg (Alemanha). Esteve presente nos inícios da reflexão que procura articular o discurso frente à miséria e à marginalização com o discurso da fé cristã, gênese da conhecida Teologia da Libertação.
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