quinta-feira, 1 de setembro de 2016

OBSERVAÇÕES DE RUDÁ SOBRE O GOLPE

NOTA DO BLOG: O nosso blog reproduz a entrevista de Rudá Ricci dentro da série OBSERVAÇÕES DE RUDÁ, nesse momento histórico em que uma presidente eleita pelo voto popular é afastada de maneira dúbia.
Após o afastamento definitivo da presidente Dilma Rousseff da Presidência da República, com o encerramento do processo de impeachment no Senado, por 61 votos a 20, a questão a ser respondida é: “O que deixará marcas na história do Brasil?”, diz Rudá Ricci à IHU On-Line, na entrevista a seguir, concedida por telefone na tarde de ontem, 31-08-2016.
Para ele, três são as marcas que ficarão na história política do país: a transformação do PT em um “partido tão conservador quanto qualquer outro”, a perda de “legitimidade” “junto ao seu eleitorado”, e a “não concordância” da sociedade “com esse estratagema” de “troca de poder”, onde sai a presidente eleita e entram “os derrotados da eleição de 2014”.
Na entrevista a seguir, Ricci comenta o esvaziamento das ruas na última semana e atribui o fato ao próprio PT, que “não fez nenhum esforço real de organizar manifestações pró-Dilma, porque nos bastidores muitos dizem que era melhor a Dilma sair como vítima – e hoje a votação foi perfeita nesse sentido para o PT. (...) Eles diziam que seria muito importante ela sair como vítima porque se ela voltasse teria um governo interditado, não conseguiria governar e isso acabaria transbordando sobre a legitimidade do PT”. Dilma, avalia o sociólogo, já “está muito mais para o trabalhismo do que para o PT neste momento e tenho a impressão de que o PT também quer isso”.
Apesar da queda da presidente Dilma e do descrédito em relação ao PT daqui para frente, “é a esquerda mais radical que cresce”, pondera Ricci, ao comentar rapidamente o desempenho do PSOL nas campanhas municipais em alguns estados do país. Esses dados, frisa, não indicam “pouca coisa” e “não dá para dizer que a esquerda está frágil”, embora o que tende a “criar um vigor popular e de esquerda serão os movimentos sociais e não os partidos”.
Segundo ele, “a partir de agora a esquerda, possivelmente, terá uma constelação de partidos, o PCdoB, provavelmente, vai disputar em muitos locais a base do PT e os movimentos sociais é que, supostamente, serão o cimento de um novo projeto popular e de esquerda no Brasil, principalmente o MTST, dirigido pelo Guilherme Boulos”. Apesar dessa diversidade e do fim de um partido de massa como foi o PT, isso não significa que a esquerda “será mais fragmentada”. “Nós agora, em função, inclusive do lulismo, temos organizações, partidos e movimentos que têm agendas próprias e isso não significa que tenhamos uma esquerda fragmentada; isso significa que a esquerda será somatória. Posso te garantir que está tendo muita reunião na periferia, entre a esquerda, para fazer esse acordo, mas neste momento, sem o PT”, conclui.


Rudá Ricci é graduado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUCSP, mestre em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp e doutor em Ciências Sociais pela mesma instituição. É diretor geral do Instituto Cultiva, professor do curso de mestrado em Direito e Desenvolvimento Sustentável da Escola Superior Dom Helder Câmara e colunista Político da Band News. É autor de Terra de Ninguém (Ed. Unicamp), Dicionário da Gestão Democrática (Ed. Autêntica), Lulismo (Fundação Astrojildo Pereira/Contraponto), coautor de A Participação em São Paulo (Ed. Unesp), entre outros.

Confira a entrevista.