domingo, 29 de julho de 2018

CARTA AO CAMARADA OLEV IV: GAROTOS





NOTA: Cartas ao Camarada Olev é um projeto literário de minha autoria que consiste em cartas escritas a um amigo imaginário que é professor na Universidade de Burgas, na Bulgária, que conheci durante o Tour de France de 2012. Onde falamos de cultura, esporte, sobretudo ciclismo, uma paixão cara a ele, e claro, como dois marxistas, falamos da realidade, principalmente a do Brasil. Apesar de ser ficção, os temas são baseados em realidades vivenciadas no Brasil. Estou postando no blog que destino para os esquerdistas, uma vez que no ESCRITOS DO CLÁUDIO tenho leitores que independem de suas posições políticas, acreditando que aqui, apesar de ser uma obra literária, os temas abordados, e como são abordados, serão melhores compreendidos.


CARTA AO CAMARADA OLEV IV

Mutum, 29 de junho de 2018

                            Camarada Olev

         Escrevo-te motivado pelo final de mais um Tour de France nesse domingo. Eu ainda não sei se de fato se se confirmou o Thomas como vencedor.  A ESPN, canal por onde acompanho a melhor prova ciclística do mundo quando se fala em estrada, além das belas imagens da nossa Minas Gerais europeia, a França.
         Você viu a etapa de sexta-feira? Simplesmente demais. Aquela neblina na descida nos Pirineus.
         Indo de neblina a algo nebuloso, falemos da politiquinha no meu país. Definitivamente vivemos um estado de exceção. Gostei quando alguém falou que o maior ato de desobediência do brasileiro está sendo manter em primeiro lugar nas pesquisas um candidato preso. Ontem houve um show pedindo liberdade de Lula. E disseram que era campanha antecipada. Então a justiça entende que ele é candidato. Não foi um show para pedir votos. Foi para pedir liberdade uma vez que não há provas do crime em que ele é acusado.
         Outra encheção de saco está sendo a guerrilha virtual que a direita, sobretudo os militantes do Bolsonaro. Penso eu que estão na mesma condições dos neonazismo alemão ou de até mesmo aí da Bulgária. São jovens sem empregos que, na incerteza do futuro, culpam a esquerda por qualquer coisa.
         Só porque brinquei com o eclipse da lua, sugerindo a foice do símbolo comunista, um boçal veio dizer que estava magrinha, a foice. Ele queria que a foice fosse uma guilhotina. Aí um bando de garotos bolsonaristas começou a compartilhar. Não culpo o atual vice-prefeito que passou a apoiar Bolsonaro e então abriu debaixo de suas asas esses garotos.
         Eles dizem que o Temer é esquerda por que foi eleito junto com a Dilma. Mas o líder bolsonarista aqui na cidade é direita, apesar de ser o atual vice-prefeito da administração petista. Acusam a Nicarágua de Ortega de comunista e de que a polícia é violenta, mas dizem que a violência no Brasil é por causa da esquerda que não fortaleceu a polícia.
         Pensei em ficar calado. Em sair do facebook, mas como ficaria a divulgação literária? Apenas apaguei o post e exclui alguns deles, os mais chatos. Mas temos que admitir que assim como na Bulgária, há uma garotada sem perspectiva de vida aderindo a essas ideias sem consistência histórica. Eles chamam de esquerda, de comunista, qualquer coisa que não está dentro da sua estreita consciência.
         É impossível o diálogo. Mas são coisas da história. Você, caro Olev, que é muito mais marxista que eu, sabe que não estamos em disputa com o capitalismo, estamos apenas propagando a nova etapa da história assim como um cristão prega a Boa Nova de Jesus de Nazaré.
         Nosso bravo Quintana ficou com o décimo lugar. Enquanto eu escrevia essa missiva fiquei sabendo que de Thomas ganhou o tour, e que Froome recuperou o terceiro lugar. Um manual de como conviver com neonazistas deve ser o próximo livro que devemos escrever. Qualquer dia eu apareço aí em Burgas.
        
Fraternalmente, Cláudio.