NOTA: Cartas ao Camarada Olev é um projeto literário de minha autoria que consiste em cartas escritas a um amigo imaginário que é professor na Universidade de Burgas, na Bulgária, que conheci durante o Tour de France de 2012. Onde falamos de cultura, esporte, sobretudo ciclismo, uma paixão cara a ele, e claro, como dois marxistas, falamos da realidade, principalmente a do Brasil. Apesar de ser ficção, os temas são baseados em realidades vivenciadas no Brasil. Estou postando no blog que destino para os esquerdistas, uma vez que no ESCRITOS DO CLÁUDIO tenho leitores que independem de suas posições políticas, acreditando que aqui, apesar de ser uma obra literária, os temas abordados, e como são abordados, serão melhores compreendidos.
CARTA AO CAMARADA OLEV IV
Mutum, 29 de junho de 2018
Camarada
Olev
Escrevo-te
motivado pelo final de mais um Tour de France nesse domingo. Eu ainda não sei
se de fato se se confirmou o Thomas como vencedor. A ESPN, canal por onde acompanho a melhor
prova ciclística do mundo quando se fala em estrada, além das belas imagens da
nossa Minas Gerais europeia, a França.
Você
viu a etapa de sexta-feira? Simplesmente demais. Aquela neblina na descida nos
Pirineus.
Indo
de neblina a algo nebuloso, falemos da politiquinha no meu país. Definitivamente
vivemos um estado de exceção. Gostei quando alguém falou que o maior ato de desobediência
do brasileiro está sendo manter em primeiro lugar nas pesquisas um candidato
preso. Ontem houve um show pedindo liberdade de Lula. E disseram que era
campanha antecipada. Então a justiça entende que ele é candidato. Não foi um
show para pedir votos. Foi para pedir liberdade uma vez que não há provas do
crime em que ele é acusado.
Outra
encheção de saco está sendo a guerrilha virtual que a direita, sobretudo os
militantes do Bolsonaro. Penso eu que estão na mesma condições dos neonazismo
alemão ou de até mesmo aí da Bulgária. São jovens sem empregos que, na
incerteza do futuro, culpam a esquerda por qualquer coisa.
Só
porque brinquei com o eclipse da lua, sugerindo a foice do símbolo comunista,
um boçal veio dizer que estava magrinha, a foice. Ele queria que a foice fosse
uma guilhotina. Aí um bando de garotos bolsonaristas começou a compartilhar. Não
culpo o atual vice-prefeito que passou a apoiar Bolsonaro e então abriu debaixo
de suas asas esses garotos.
Eles
dizem que o Temer é esquerda por que foi eleito junto com a Dilma. Mas o líder bolsonarista
aqui na cidade é direita, apesar de ser o atual vice-prefeito da administração
petista. Acusam a Nicarágua de Ortega de comunista e de que a polícia é
violenta, mas dizem que a violência no Brasil é por causa da esquerda que não
fortaleceu a polícia.
Pensei
em ficar calado. Em sair do facebook, mas como ficaria a divulgação literária? Apenas
apaguei o post e exclui alguns deles, os mais chatos. Mas temos que admitir que
assim como na Bulgária, há uma garotada sem perspectiva de vida aderindo a
essas ideias sem consistência histórica. Eles chamam de esquerda, de comunista,
qualquer coisa que não está dentro da sua estreita consciência.
É
impossível o diálogo. Mas são coisas da história. Você, caro Olev, que é muito
mais marxista que eu, sabe que não estamos em disputa com o capitalismo,
estamos apenas propagando a nova etapa da história assim como um cristão prega
a Boa Nova de Jesus de Nazaré.
Nosso
bravo Quintana ficou com o décimo lugar. Enquanto eu escrevia essa missiva
fiquei sabendo que de Thomas ganhou o tour, e que Froome recuperou o terceiro
lugar. Um manual de como conviver com neonazistas deve ser o próximo livro que
devemos escrever. Qualquer dia eu apareço aí em Burgas.
Fraternalmente, Cláudio.
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