sábado, 22 de agosto de 2015

JÁ PASSOU DA HORA (QUAL O SABOR DA LAMA)

DA SÉRIE: QUAL O SABOR DA LAMA

NOTA DO BLOG: Nosso blog MUTUM COMUNITÁRIO, até a dias era o MUTUM SOCIALISTA traz à tona para nossos seguidores e leitores,  a opinião de Dom Luiz Demétrio Valentini, bispo sempre ligado aos movimentos sociais, para dar sequência a nossa série QUAL O SABOR DA LAMA. Vamos fazer uma leitura atenta, sempre em paralelo aos artigos de Leonardo Boff e Rudá Ricci. É intenção do blog também postar nessa série opiniões de mutuenses e/ou companheiros que sempre estão conosco nas caminhadas de transformação. O blog está aberto a diversidade de opiniões.



JÁ PASSOU DA HORA
QUINTA, 20 AGOSTO 2015 16:01
Dom Luiz Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)
A situação nacional chegou a um ponto limite. Está mais do que na hora de acabar com querelas políticas, que nada contribuem para superar a crise econômica, que precisa ser contornada com urgência.

O Brasil passa por problemas conjunturais, que agravam ainda mais a situação, e que precisam ser enfrentados com realismo e competência. Há muito tempo, por exemplo, que não se via uma escassez de água como a verificada no sudeste do país, fruto de uma seca prolongada, com fortes reflexos na vida do povo, que se vê na contingência de pagar caro pela água, além de precisar racioná-la rigorosamente.
Mas os efeitos da crise hídrica não se manifestam só na escassez de água potável. Ela se traduz também em crise de energia, que precisa de soluções alternativas, que custam mais caro, além do risco iminente de racionamento, que a situação já faz pressentir.
Sejam quais forem os problemas, com sua evidente complexidade, resulta ainda mais evidente a urgência de um amplo entendimento, que envolva todo o país, em todas as suas esferas, tanto na sociedade civil, como nas estruturas do Estado, comprometendo o Judiciário, o Legislativo e o Executivo, em todos os níveis, desde o federal até o local.
A hora é de entendimento, de diálogo, e de comprometimento. Chega de questionar o resultado das eleições, chega de pedir a renúncia dos governantes, chega de apelar para o impedimento da Presidente Dilma.
Nesta perspectiva é louvável a iniciativa da OAB e de outras entidades como a Confederação Nacional da Indústria, a Confederação Nacional da Agricultura e a Confederação Nacional do Comércio, além de outras organizações da sociedade civil, propondo uma “carta à nação”, com sugestões para tirar a economia da crise, e combater a corrupção.   A carta diz que “independentemente de posições partidárias, o Brasil não pode parar nem ter sua população e seu setor produtivo penalizados por disputas ou por dificuldades de condução de um processo político que recoloque o país no caminho do crescimento”.
Com estas intenções, o movimento aponta saídas, como por exemplo, esta, de “dar força aos órgãos de investigação e ao Poder Judiciário para que a corrupção não siga como um empecilho para o desenvolvimento do país”.
São apresentadas também sugestões para se evitar o desemprego e a recessão, com a insistência de se ter regras claras para estimular o investimento na infraestrutura, a ser feito em parceria com a iniciativa privada nacional e estrangeira.  
Nestas circunstâncias, haveria clima mais favorável, para se empreender de vez uma reforma administrativa, com a finalidade de enxugar a máquina, para torná-la mais eficaz e menos onerosa.
O movimento não representa nenhum partido e vai criar um fórum permanente para dialogar com o governo e o Congresso.
Tudo para dizer que ainda é possível o diálogo e o entendimento amplo, em vista da superação da crise que precisa ser debelada a todo custo.

22/08/2015 08:14

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

RITMOS DA LATINO AMÉRICA PARA SI MESMA



NOTA DO BLOG: Construir nossa identidade latino-americana se faz preciso. O site Caro Amigos traz um artigo sensacional com 10 clipes que fala da América Latina que vai do punk à Cumbia.
Talvez a palavra que melhor possa descrever a América Latina é diversidade. Línguas, etnias, cores, sabores. Muitas vezes usada para nos separar, essa heterogeneidade vem sendo utilizada também para apontar um novo caminho de “unidade na diversidade”, entendendo esta não como problema e sim como nossa maior riqueza.

Vários artistas têm buscado refletir em suas canções um pouco da diversidade, da mistura e dos processos de luta e resistência política e cultural dos nossos povos. Como somos também terra de imagens, separamos alguns dos videoclipes que melhor representam essa rica diversidade.
Calle 13 é uma música fantástica, quem não a conhece, vale a pena.

Assista os clipes, mas leia também sobre a cultura musical que é nosso continente: http://www.carosamigos.com.br/index.php/cultura/5280-10-clipes-para-conhecer-a-america-latina 

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

QUAL O SABOR DA LAMA? LEONARDO BOFF

DA SÉRIE: QUAL O SABOR DA LAMA?

NOTA DO BLOG: ARTIGO COMPARTILHADO PARA A NOSSA REFLEXÃO SOBRE A ATUAL CRISE QUE O BRASIL PASSA.

O PT ou se renova ou se mediocriza de vez
16/08/2015
      Reza um mito antigo da cultura mediterânea que, de tempos em tempos, a águia, obsevando em seu corpo sinais de envelhecimento, fraqueza dos olhos penetrantes, e flacidez das garras se propunha renovar-se totalmente. Assim fazia também a fênix egípcia que aceitava morrer para voltar rejuvenescida para nova vida. Qual era a estratégia da águia? Punha-se a voar cada vez mais alto até chegar perto do sol. Então as penas se incendiavam e ela toda começava a arder. Quando chegava a este ponto extremo, ela se precipitava do céu e se lançava qual flecha nas águas frias do lago. O fogo nela se apagava.
E então ocorria a grande transformação. Através desta experiência de fogo e de água, a velha águia voltava a ter penas novas, garras afiadas, olhos penetrantes e o vigor da juventude.
Queremos aplicar este mito ao PT metido numa crise crucial que o obriga a renovar-se como a águia ou aceitar o lento envelhecimento até perder todo o vigor vital e a capacidade de renovação da sociedade, como era seu sonho primordial.
Para entender melhor esse relato e aplicá-lo ao PT precisamos revisitar o filósofo Gaston Bachelard e o psicanalista C. G. Jung que entendiam muito de mitos e de seu sentido profundo. Segundo eles, fogo e água são opostos. Mas quando unidos, se fazem poderosos símbolos de transformação.
O fogo simboliza a consciência, o vigor e a determinação de abrir caminhos novos. A água, ao contrário, representa as forças do inconsciente, as dimensões do cuidado e a capacidade de entender o sentido secreto das crises.
Passar pelo fogo e pela água significa, portanto, integrar em si os opostos: a determinação com a descoberta do sentido real das crises. Elas acontecem para purificar, limpar de todo tipo de agregado e deixar aparecer o essencial. Ninguém ao passar pelo fogo ou pela água permanece intocado. Ou sucumbe ou se transfigura, porque a água lava e o fogo purifica.
A água nos faz pensar também nas grandes enchentes como conhecemos em 2011 nas cidades serranas do Estado do Rio de Janeiro. Com sua força tudo carregaram, especialmente o que não tinha consistência e solidez. Numa única noite morreram 903 pessoas e 32 mil ficaram desabrigadas. Foi um cataclismo de ressonância mundial. É o poder invencível da água.
O fogo nos faz imaginar o cadinho ou as fornalhas que queimam e acrisolam tudo o que é ganga e que não é essencial. O ouro e a prata passam por esse processo purificador do fogo.
São notórias as crises existenciais. Ao fazermos esta travessia pela “noite escura e medonha”, como dizem os mestres espirituais, deixamos aflorar nosso eu profundo sem as ilusões do ego superficial. Então amadurecemos para aquilo que é em nós autenticamente humano e verdadeiro. Quem recebe o batismo de fogo e de água rejuvenesce como a águia do mito antigo.
Mas existem também as crises maiores, de todo um projeto e mesmo de todo um partido como o PT. Ele tem que assumir a verdade: teve muitos acertos que beneficiaram milhões que viviam na pobreza e na marginalidade. Mas também cometeu erros evitáveis: deixou-se tomar pelo “demônio” do poder como fim em si mesmo quando deve ser sempre meio. Houve vergonhosa corrupção de pessoas importantes que destruíram o sonho de toda uma multidão que acreditava e se esforçava para viver o novo factível.
Mas abstraindo das metáforas e indo diretamente ao conteúdo real: que significa concretamente para o PT rejuvenescer-se como a águia? Significa entregar à morte tudo o que de errado praticou e que impede o sonho de despertar.
O velho no PT são os hábitos e as atitudes da velha política que servia de instrumento para crescer e perpetuar-se no poder. Com isso perdeu o sentido originário do poder como meio de transformação em benefício das grandes maiorias e jamais como fim em si mesmo. Tudo isso deve ser entregue à morte para o PT poder inaugurar uma forma de relação com os verdadeiros portadores do poder que é o povo e os movimentos sociais.
Rejuvenescer-se como águia significa também desprender-se de convicções enrijecidas, de certa arrogância de representar o melhor caminho e de alimentar a pretensão de estar sempre certo. Muitos dirigentes continuam manejando conceitos ultrapassados, incapazes de oferecer respostas novas à crise que devasta os países centrais e agora nos atinge poderosamente. Rejunecer-se como águia significa ter coragem para recomeçar e estar sempre aberto a escutar, a aprender e a revisar.
Mas não é isso que está ocrrendo. Até hoje esperamos uma revisão sincera e o reconhecimento público de seus erros. Seus líderes imaginam que assim fazendo, dão armas aos adversários, quando mostrariam ser mais fiéis mais à verdade do que à própria imagem.
O PT que se apresentava como uma águia de alto voo, corre o risco de se transformar em galinha comum que apenas cisca o chão e faz voos rasteiros. Não é esse o destino que a história lhe quer reservar.
Por último, se o PT quiser se renovar como uma águia deve regressar ao seio do povo. Este lhe dará belos exemplos de luta, de trabalho, de inteireza ética e também duras lições. Essa imersão é salvadora e renovadora como foi para a águia o arder em fogo e o mergulhar nas águas frias. Só assim pôde se rejuvenescer. Para o PT isso não é uma metáfora mas um desafio.
Leonardo Boff é colunista do JB on line e escritor