NOTA DO BLOG: O nosso blog
reproduz a entrevista de Rudá Ricci dentro da série OBSERVAÇÕES DE RUDÁ, nesse
momento histórico em que uma presidente eleita pelo voto popular é afastada de
maneira dúbia.
Após o afastamento definitivo da
presidente Dilma Rousseff da Presidência da República, com o encerramento do
processo de impeachment no Senado, por 61 votos a 20, a questão a ser
respondida é: “O que deixará marcas na história do Brasil?”, diz Rudá Ricci à
IHU On-Line, na entrevista a seguir, concedida por telefone na tarde de ontem,
31-08-2016.
Para ele, três são as marcas que
ficarão na história política do país: a transformação do PT em um “partido tão
conservador quanto qualquer outro”, a perda de “legitimidade” “junto ao seu
eleitorado”, e a “não concordância” da sociedade “com esse estratagema” de
“troca de poder”, onde sai a presidente eleita e entram “os derrotados da
eleição de 2014”.
Na entrevista a seguir, Ricci
comenta o esvaziamento das ruas na última semana e atribui o fato ao próprio
PT, que “não fez nenhum esforço real de organizar manifestações pró-Dilma,
porque nos bastidores muitos dizem que era melhor a Dilma sair como vítima – e
hoje a votação foi perfeita nesse sentido para o PT. (...) Eles diziam que
seria muito importante ela sair como vítima porque se ela voltasse teria um governo
interditado, não conseguiria governar e isso acabaria transbordando sobre a
legitimidade do PT”. Dilma, avalia o sociólogo, já “está muito mais para o
trabalhismo do que para o PT neste momento e tenho a impressão de que o PT
também quer isso”.
Apesar da queda da presidente
Dilma e do descrédito em relação ao PT daqui para frente, “é a esquerda mais
radical que cresce”, pondera Ricci, ao comentar rapidamente o desempenho do
PSOL nas campanhas municipais em alguns estados do país. Esses dados, frisa, não
indicam “pouca coisa” e “não dá para dizer que a esquerda está frágil”, embora
o que tende a “criar um vigor popular e de esquerda serão os movimentos sociais
e não os partidos”.
Segundo ele, “a partir de agora a
esquerda, possivelmente, terá uma constelação de partidos, o PCdoB,
provavelmente, vai disputar em muitos locais a base do PT e os movimentos
sociais é que, supostamente, serão o cimento de um novo projeto popular e de
esquerda no Brasil, principalmente o MTST, dirigido pelo Guilherme Boulos”. Apesar
dessa diversidade e do fim de um partido de massa como foi o PT, isso não
significa que a esquerda “será mais fragmentada”. “Nós agora, em função,
inclusive do lulismo, temos organizações, partidos e movimentos que têm agendas
próprias e isso não significa que tenhamos uma esquerda fragmentada; isso
significa que a esquerda será somatória. Posso te garantir que está tendo muita
reunião na periferia, entre a esquerda, para fazer esse acordo, mas neste
momento, sem o PT”, conclui.
Rudá Ricci é graduado em Ciências
Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUCSP, mestre em
Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp e doutor em
Ciências Sociais pela mesma instituição. É diretor geral do Instituto Cultiva,
professor do curso de mestrado em Direito e Desenvolvimento Sustentável da
Escola Superior Dom Helder Câmara e colunista Político da Band News. É autor de
Terra de Ninguém (Ed. Unicamp), Dicionário da Gestão Democrática (Ed.
Autêntica), Lulismo (Fundação Astrojildo Pereira/Contraponto), coautor de A
Participação em São Paulo (Ed. Unesp), entre outros.
Confira a entrevista.
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