SEXTA-FEIRA, 14 DE FEVEREIRO DE 2014, 10:39 HS
‘Quase todas as obras importantes em Minas são com dinheiro federal’
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca nesta sexta-feira (14) em Belo Horizonte para lançar a pré-candidatura do ex-prefeito da capital, Fernando Pimentel (PT), ao governo de Minas. Os dois estarão juntos às 16h no hotel Ouro Minas, quando recebem deputados estaduais e federais aliados e, mais tarde, às 19h, no colégio Pio XII, onde darão a largada para as caravanas de Pimentel pelo interior do Estado.Belo Horizonte foi a primeira capital escolhida por Lula para lançar a candidatura de um aliado. A escolha
de Lula dá o tom da importância dada pelo PT à disputa em Minas. Segundo colégio eleitoral do país, o Estado nunca foi governado por um petista.
Fernando Pimentel deixou ontem o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior para se dedicar à pré-campanha.
Assim como em 2008, Lula concedeu entrevista ao Super Notícia. Confira as respostas do ex-presidente.
1- O salário mínimo vem tendo ganho real nos últimos anos. O senhor, que foi um líder sindical atuante, acha que um aposentado ou um trabalhador tem condições de sobreviver atualmente com R$ 724?
Nós sabemos que o mínimo não é o sonho do trabalhador, inclusive porque é o piso salarial. Em 2002, o salário mínimo era de apenas R$ 200, e não chegava a 100 dólares. De 2003 até hoje, já teve mais de 70% de aumento real. Chegou a R$ 724, que são cerca de 300 dólares, e vai continuar crescendo nos próximos anos. O governo anterior dizia que era impossível aumentá-lo sem quebrar a Previdência Social. Demonstramos na prática que isso era falso. Negociamos com as centrais sindicais uma Política de Valorização Permanente do Salário Mínimo, que passou a ter aumento real, ou seja, acima da inflação, todos os anos. Além de melhorar a vida dos trabalhadores, aposentados e pensionistas, o aumento do salário mínimo amplia o consumo popular e fortalece o mercado interno, que é o esteio da nossa economia. E a Previdência, evidentemente, não quebrou. Ao contrário: criamos 21 milhões de novos empregos e ela passou a receber mais contribuições de empregadores e empregados.
2- Em setembro de 2008, o senhor deu uma entrevista ao Super Notícia em que já falava da possibilidade de utilizar os royalties do petróleo do pré-sal para aplicar na educação e no combate à pobreza. Cinco anos depois, a informação é que o Campo de Libra só começará a produzir quantidade significativa de petróleo daqui a cerca de dez anos. O Pré-Sal foi superestimado? O combate à pobreza e mais investimento na educação vão ter que esperar mais uma década?
O combate à pobreza e a melhoria da educação foram as maiores prioridades do meu governo e continuam sendo no da Presidenta Dilma. E isso muito antes do Pré-Sal. Basta dizer que, sem um tostão do Pré-Sal, só com recursos do orçamento, conseguimos tirar 36 milhões de pessoas da miséria e levar 40 milhões para a classe média. Foi a maior ascensão social coletiva que o Brasil já conheceu, fruto de um conjunto de programas, principalmente do Bolsa Família, que foi premiado pela ONU como o melhor programa de combate à pobreza do mundo. A Dilma aprofundou esse trabalho, com o Brasil Sem Miséria.
Sobre a educação, os números falam por si. Nesses 11 anos, elevamos o orçamento do Ministério da Educação de 33 bilhões em 2003 para 101,86 bilhões em 2013. Com isso, foi possível ampliar todas as universidades federais existentes, criar 17 novas universidades e espalhar 126 novos campi pelo interior do país. Em Minas Gerais foram 3 novas universidades: a Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), a Federal de Alfenas (Unifal) e a Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), além e 3 novos câmpus das universidades de Juiz de Fora e de Uberlândia. Criamos em uma década mais escolas técnicas federais do que haviam sido criadas em todo o século anterior. Sem falar no Pro-Uni, que já possibilitou o acesso de 1,4 milhões de jovens da periferia ao ensino superior. E poderíamos acrescentar o Fundeb,o Fies, a Universidade Aberta, o Piso Nacional do Magistério etc. Tenho muito orgulho de ter sido, junto com o saudoso José Alencar, o governante que mais fez pela educação brasileira, da Pré-Escola à Pós-Graduação. Também nessa área a Dilma está avançando muito, com o Pronatec e o Ciência Sem Fronteiras, por exemplo.
O Congresso aprovou o Projeto da Presidenta Dilma que destina 50% do fundo do Pré-Sal para a educação e 25% para a saúde. Isso agora é lei, uma conquista histórica da população. Se conseguimos fazer tanto pela educação sem os recursos do Pré-Sal, imaginem agora com essa verba adicional. Hoje no Brasil o acesso à escola está assegurado. Mas precisamos melhorar – e muito – a qualidade do nosso ensino.
E o Pré-Sal não foi superestimado. Pelo contrário: as reservas estão todas comprovadas e certificadas. Caso contrário, não haveria tantas empresas do mundo inteiro interessadas em explorá-las. A Petrobrás deverá dobrar sua produção até 2020, de 2 milhões de barris diários para 4 milhões de barris diários. E só nos campos do pré-sal da bacia de Santos já estão sendo produzidos 346 mil barris diários, e isso é apenas o começo.
3- O senhor é a favor das manifestações de rua em curso no país desde junho de 2013? Como o governo deve tratá-las considerando ser a Copa do Mundo o alvo de muito desses protestos? O senhor teme pela segurança durante o evento?
O Brasil é uma democracia e as manifestações pacíficas fazem parte da vida democrática. Na última década, a sociedade se mobilizou e obteve conquistas extraordinárias. A população descobriu que vale a pena manifestar-se, que isso ajuda o país a avançar. Quanto mais participativa a democracia, melhor. E os governos devem dialogar com os movimentos, atendendo o que for justo e possível. A violência, no entanto, é inaceitável. Quem recorre à violência, perde a razão. E obriga o Estado democrático a agir para impedi-la.
Uma Copa do mundo traz muitos benefícios para o país que a realiza. É por isso, aliás, que existe uma disputa tão grande para sediá-la. Além das vantagens esportivas, como a construção e reforma de estádios, a Copa aumenta o turismo, gera empregos, amplia a infraestrutura e melhora a mobilidade urbana. É natural que ocorram protestos, pois alguns grupos aproveitam a visibilidade do evento para divulgar as suas causas. Mas a imensa maioria do povo brasileiro está feliz com a realização do Mundial no Brasil, percebe os benefícios para o país e espera que seja um grande sucesso, de preferência com a vitória da nossa Seleção.
4- Por que a transposição do rio São Francisco ainda não foi concluída e a obra hoje encontra-se em muitos pontos abandonada? A obra foi um erro?
A chamada transposição, que na verdade é uma integração de bacias, é uma obra fundamental para o nordeste brasileiro. Um sonho da maioria dos estados nordestinos desde os tempos de D. Pedro II. Ela vai promover uma revolução produtiva e social no semi árido. Por isso, não hesitei em apoiá-la, mesmo sabendo que enfrentaria muitas incompreensões, sobretudo daqueles que não conhecem o sofrimento do sertanejo com a falta de água. E ela não está parada não. Há trechos praticamente concluídos e muitos que estão avançando. Alguns estão suspensos por decisões judiciais. Mas, com paciência e perseverança, todos esses obstáculos serão vencidos. A causa é tão justa que não temos o direito de desanimar.
5- Qual é o futuro político do senhor? Disputaria uma nova eleição ou poderia fazer parte de um novo governo da presidente Dilma, caso ela seja reeleita?
Eu não deixei de ser um militante político por que saí da presidência. A política é essencial na minha vida. Eu vou ser um ativista político até morrer, pois acredito que essa é a melhor maneira de mudar a sociedade, de combater as injustiças, a pobreza e a desigualdade. Eu já disse que não tenho vontade de disputar eleição novamente. Mas essas coisas não dependem só da vontade pessoal. De qualquer forma, é uma questão para o futuro, em 2014 a nossa candidata é a Presidenta Dilma e acho que ela tem grandes chances de ganhar a eleição. Não pretendo ter nenhum cargo no segundo mandato de Dilma, quero continuar ajudando ela do meu jeito. Além do mais, no Instituto Lula estamos fazendo um trabalho de cooperação com a América Latina e a África que me entusiasma muito e que pretendo continuar.
6- Qual a maior virtude e o maior defeito da presidente Dilma Rousseff no comando do país?
A maior virtude da Dilma é trabalhar duro e com muita competência. Tudo que ela pega, ela se empenha, cuida, resolve. Ela nunca larga uma tarefa pela metade. Não deixa nada sem concluir. Acaba sendo um pouco mãe das coisas. E a população percebe isso, sente que o Brasil está nas mãos de quem sabe cuidar do país. O defeito dela é não ser corintiana.
7- Qual vai ser a estratégia do PT em Minas para vencer a hegemonia do senador e candidato tucano à Presidência, Aécio Neves? Haverá uma aliança estadual com o PMDB?
O PT de Minas e os partidos aliados é que vão definir a nossa estratégia. Mas eu acho que devemos mostrar as limitações e fragilidades do governo tucano e o que pode melhorar com um governo do PT. Na verdade, quase todas as obras importantes e as ações sociais que acontecem em Minas são com dinheiro do governo federal. Já era assim no meu governo e aumentou com o governo de uma mineira, a presidenta Dilma. Às vezes o estado troca o nome dos programas, mas a maior parte do dinheiro continua sendo federal. Temos um ótimo pré-candidato, o ministro Fernando Pimentel, que está inclusive liderando as pesquisas, e vamos trabalhar para que ele seja apoiado pelo PMDB e por todos os partidos da base do governo federal. Tenho certeza de que o PT, como sempre, fará sua campanha dialogando em todo o estado com os movimentos sociais, a juventude, a intelectualidade, o empresariado e os setores que desejam um novo rumo político e social para Minas.
8- O senhor concorda com a tese de que o julgamento do mensalão foi político e, portanto, que os envolvidos detidos seriam “presos políticos”?
Só vou me pronunciar sobre a Ação Penal 470 quando o julgamento estiver concluído. Mas é obvio que a suprema corte não é lugar para fazer política. Quem quer fazer política deve filiar-se a um partido, mostrar a sua cara e assumir as suas posições em praça pública.
Fonte: O Tempohttp://www.otempo.com.br/capa/pol%C3%ADtica/entrevista-na-%C3%ADntegra-com-o-lula-1.788774,
BLOG DO ROGÉRIO CORREIA: http://www.rogeriocorreia.com.br/noticia/%E2%80%98quase-todas-as-obras-importantes-em-minas-sao-com-dinheiro-federal%E2%80%99/
Nenhum comentário:
Postar um comentário